Futebol de parar o trânsito


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No dia de estreia da seleção brasileira na Copa do Mundo da Fifa, o trânsito parou na cidade de São Paulo. Por volta das 15h da tarde, meia hora antes do início do jogo, o número de carros nas ruas ultrapassou muito a média do horário e a CET  (Companhia de Engenharia de Tráfego) chegou a registrar 203 km de congestionamento na região metropolitana.
O transporte público também apresentou um movimento inesperado nas horas que antecederam a partida. Mesmo com as empresas de transportes reforçando sua equipe de funcionários, a demanda de passageiros superou as expectativas e o caos tomou conta da metrópole. Nas linhas de trem, por volta das 14h, a multidão já marcava presença nas estações e sofria para conseguir entrar nos vagões. Muitos paulistanos foram pegos de surpresa pela quantidade de gente nas ruas em todos os meios de transporte.
A cena de pessoas descendo de táxis e saindo correndo nas ruas para tentar chegar a tempo de assistir ao jogo foi comum naquela tarde, descreveu Maria Lúcia Faria que pegou o ônibus Socorro à 1h e meia de terça-feira. Sortuda, ela desceu do ônibus 3h e 20min e conseguiu acompanhar a partida desde o início, mas levou quase duas horas em um trajeto que costumava fazer no mesmo horário em 35 minutos. Segundo Maria Lúcia, quando desceu do ônibus ele ainda estava lotado, como se fosse 6h da tarde (momento de mais movimento na cidade) e a grande maioria dos passageiros não chegaria para o início do jogo.
O número de acidentes nesse período também foi maior que a média. Os motoristas deixaram o bom senso de lado para conseguir chegar mais cedo em casa e acabaram ultrapassando sinais e avançando em cruzamentos, aumentando a quantidade de batidas naquele período. Mesmo a CET reforçando a fiscalização e monitorando as ruas de São Paulo a imprudência falou mais alto e o número de vítimas foi maior que o previsto.
Para surpresa da população, instantes depois do final do jogo o trânsito fluía bem, mesmo sendo “a hora do rush” na cidade. A partida da seleção modificou a rotina da população e com o fim do expediente mais cedo, o trânsito de volta pra casa também se adiantou e acabou pegando muita gente de surpresa.
Trens e metrôs lotados e asfaltos parados foram o cenário de pré-jogo naquela tarde que, apesar do transtorno, acabou com o Brasil vitorioso que bateu a Coreia por 2x1.

                                                                                                                        Foto: UOL

Locomoção Impossível

Do Grupo

Todo cidadão paulistano já se encontrou na situação de perder horas de seu dia tentando se locomover de um lugar para o outro. A cidade cresceu de uma maneira extremamente acelerada (e desorganizada) e o setor de transporte local parece estagnado ou, no máximo, em um desenvolvimento lentíssimo. Isso é fácil de ser observado, não apenas pelos habitantes, mas também pelos turistas que pretendem movimentar-se nos horários conhecidos como de pico. Tentar sair de casa por volta das 7 às 10 horas da manhã, ou das 18 às 20 horas, é uma missão quase impossível.
Esse conflito diário não acontece apenas com os motoristas de automóveis particulares, tentar utilizar o transporte público na hora do rush não é nada fácil. Os ônibus, mesmo depois da criação de corredores específicos para a sua circulação em algumas das grandes avenidas da cidade, ficam enfileirados por muito tempo graças à super lotação das ruas paulistanas. A aglomeração é tão grande que ver pessoas se pendurando do lado de fora do transporte já é uma cena comum, que não choca nem chama grande atenção.


O tráfego muito intenso nas vias levaria muita gente a pensar que o metrô ou o trem seriam uma boa alternativa para fugir da confusão, por serem mais velozes e se manterem em trilhos, deixando de competir com ônibus e carros nas ruas da cidade. Mas nem eles servem de solução para o cidadão. A entrada em vagões nos horários mais movimentados é uma luta. O número de trabalhadores que contam com esse veículo como meio de transporte é muito maior do que a capacidade que o trem possui, mesmo espaçoso, existem poucas máquinas e lotam conforme o horário. Isso sem contar que não é possível chegar a todos os locais da cidade através desses meios de transporte, que ainda possuem poucas linhas para uma cidade do tamanho de São Paulo.
A qualidade dos meios de transporte público não supre as necessidades dos habitantes da cidade e é tão precária que, muitas vezes, chega a ser um desrespeito. Os vagões e ônibus ficam completamente lotados, as pessoas se distribuem ao longo deles sem a menor segurança, estando extremamente sujeitas a ferimentos graves em um eventual acidente. Aqueles que possuem assentos preferenciais acabam ficando sem o direito de sentar, não apenas pelo desrespeito dos outros passageiros, mas também pela inviabilidade de locomoção dentro do próprio veículo. Para onde vai o dinheiro que o governo cobra, em impostos, de todos nós para fazer a manutenção e proporcionar segurança e conforto no transporte público?


Confirmando a dificuldade de locomoção que paulistanos sofrem, passamos uma tarde tentando atravessar a cidade da zona Oeste para a zona Sul. Nossa surpresa não foi tamanha quando nos deparamos com dezenas de pessoas a mais do que o ônibus suportava.
“Após um dia inteiro de trabalho é praticamente impossível chegar em casa sem estar extremamente estressada e cansada. O caminho de ida e de volta acaba sendo muito pior do que o próprio trabalho."
Diz Ana Lúcia Costa, uma empregada doméstica de 42 anos que é obrigada a pegar três ônibus diariamente para chegar do seu trabalho até a sua casa.
"O pior é saber que tem que esperar o outro ônibus chegar no ponto e vai estar muito mais lotado. Ainda chego em casa pego as crianças na creche e faço a janta. Mesmo com essa dor no braço e nas pernas de ficar em pé aqui."
Completa a operadora de telemarketing Márcia Noronha, de 36 anos, que precisa sair do bairro de Perdizes e ir até o Capão Redondo todos os dias.
Mudando de veículo, tentando mais sorte dessa vez, nos aventuramos a pegar o trem na linha 9-Esmeralda. Sem conseguir levantar os braços, até fazer uma simples entrevista foi um transtorno. Todos de pé e carregando muita coisa, era difícil conseguir chegar à porta para desembarcar na estação. Daniela Almeida, jornalista de 38 anos nos disse:
"Imagino o que vocês não vão sofrer para anotar o que as pessoas vão contar. Esse trem é um sufoco só. Vocês não vão nem acreditar, mas dois meses atrás quebrei a costela por estar segurando uma prancheta e ser muito espremida aqui!"
Está mais do que certo que transitar em São Paulo é um atraso para todos os cidadãos... O problema do transporte público demonstra o descaso do governo paulistano com sua população. Reclame, denuncie, busque seu direto!

Reportagem especial: Mães contra a violência do Estado

Do grupo

A Semana de Jornalismo realizada anualmente pela PUC-SP trata de um tema muito polêmico neste ano de 2010: os Direitos Humanos. Para participar do debate que aconteceu na terça-feira (25), algumas mães integrantes do movimento Mães de Maio foram convidadas e contaram aos alunos sobre os abusos que seus filhos sofreram antes de serem mortos pela polícia e a luta em busca de justiça que elas têm travado desde então.
O nome do movimento surgiu em alusão aos fatídicos episódios que aconteceram em maio de 2006, quando em represália aos ataques cometidos pelo PCC na mesma época, policiais e grupos de extermínio saíram pelas ruas matando todos aqueles que consideravam suspeitos.
Pelo que se tem notícia, foram assassinadas no mínimo 493 pessoas ao longo de uma única semana, das quais mais de 400 eram jovens negros, afro-índigenas e pobres. O número de mortes impressiona muito, pois nem durante o período da Ditadura Militar foram registrados tantos crimes cometidos pelo Estado.
Segundo Débora Maria da Silva, mãe de uma das vítimas da PM e ativista do movimento das Mães de Maio, um dia antes de seu filho ser morto, ela recebeu o telefonema de um integrante da polícia pedindo a ela que “avisasse às pessoas de bem para sair das ruas pois a polícia ia pra cima”. O mesmo homem disse ainda, que “os lixos” não deveriam ser avisados. “O que ele não sabia é que uma dessas pessoas que ele chamou de lixo era o meu filho, que era trabalhador e foi morto apenas porque era pobre, negro e estava na rua na hora errada”, desabafa Débora.
Uma das maiores lutas das mães que fazem parte do movimento é para que os negros e pobres, que normalmente habitam as periferias das cidades parem de ser discriminados e perseguidos. A maioria dos mortos atende tais características e na maior parte das vezes são executados apenas porque levantaram suspeitas na polícia, quando na verdade são trabalhadores que não representam nenhum perigo para a sociedade.
Além disso, Débora reclama que a grande mídia colaborou para que esses crimes cometidos durante a “onda de resposta” aos “ataques do PCC” fossem banalizados e que os grandes veículos de comunicação foram, durante muito tempo, a favor das mortes sem nunca ter nem procurado algum familiar das vítimas para ouvir o outro lado da história.
Ainda segundo ela, “até há pouco tempo a imprensa falava que todas as mortes eram devido à guerra do tráfico, mas a guerra não é do tráfico de drogas e sim da criminalização da pobreza”.
Outra mãe, Solange Prudes Moura, conta a história de seu filho Sidney que foi morto dentro da Febem (atual Fundação Casa) enquanto estava detido tentando se recuperar da dependência química e diz que foi testemunha de maus tratos a vários menores da mesma fundação.
Segundo Solange, o filho reclamava constantemente das agressões que recebia dos policiais até que um dia apareceu morto em sua cela. “A versão oficial passada pela Febem foi de ele tinha se matado mas os seus colegas de cela dizem que viram ele sendo espancado, dopado e após isso os policiais ainda atearam fogo no corpo dele”.
Na tentativa de fazer justiça à morte do filho e prender os culpados pelo crime, a mãe de Sidney passou a integrar o movimento das Mães de Maio, mesmo sem o crime ter ocorrido na mesma época. Ela conta que de 2003 a 2008, 35 adolescentes foram mortos na Febem e diz não entender como uma instituição que pretende reabilitar os jovens para viver em sociedade acaba fazendo-os sair pior do que entraram.
Ainda de acordo com as mães, o principal obstáculo que elas têm que ultrapassar para fazer justiça à morte dos filhos é o descaso das autoridades perante o caso. Elas dizem que as mortes não são investigadas com seriedade pois não há interesse de que o Estado seja julgado pelos crimes cometidos pelas suas próprias instituições.
Vale lembrar que a luta iniciada pelo movimento das Mães de Maio já dura mais de quatro anos e nenhum suspeito foi julgado até agora, pelo contrário, todos os processos foram arquivados. Contudo, essas mulheres juram que vão continuar lutando pela justiça já que a impunidade em casos como esse, só fez com que a violência policial se intensificasse.

Reportagem especial: participação da jornalista Cristina Coghi na aula de Tutoria na PUC


Do grupo   
         
Vestindo uma camisa branca, jeans e uma echarpe azul, Cristina Coghi inicia na PUC uma interessante palestra (e aula) sobre o jornalismo atual. Há 20 anos na CBN, a repórter fala sem titubear sobre sua carreira e sobre como é trabalhar em uma das maiores rádios do país que, além de tudo, carrega o título de ser a primeira no Brasil a transmitir apenas notícias. 
Além disso, a convidada nos conta também, que em sua época como universitária estudou jornalismo na Braz Cubas, em Mogi Mirim, uma universidade não muito conhecida, porém a única que suas condições financeiras lhe permitiram cursar. 
Antes de iniciar na emissora onde está até hoje, Coghi passou pelo jornal impresso trabalhando para os movimentos sindicais, pela TV Cultura e realizou “freelances”, até surgir a proposta de cobrir férias como redatora na própria CBN. Logo após o nascimento de seu filho, foi oficialmente contratada pela rádio. 
A jornalista descreve com detalhes a emoção e o sufoco pelos quais ela e seus colegas de profissão passam ao tentar realizar uma matéria, às vezes até mesmo sem se dar conta na hora dos perigos que estão correndo. Para exemplificar tal fato ela conta sobre um confronto que presenciou entre manifestantes do MST e a polícia, com direito a pedras, bombas de gás e cães da polícia.
Indagada sobre a recente determinação da Justiça Brasileira sobre a não obrigatoriedade do diploma na carreira jornalística, ela diz que não aprova tal medida, uma vez que há coisas que somente a formação acadêmica é capaz de ensinar. Contudo, acima disso deve haver categoria profissional e competência por parte dos jornalistas, independentemente da posse ou não de um certificado.
Cristina fala também de aspectos negativos da profissão, como por exemplo, as longas horas de trabalho e o expediente em boa parte dos feriados nacionais. Chega a dizer que “o mercado é uma máquina de fazer gente louca”.
Conta também que ao contrário do que a maioria pensa, ela nunca foi obrigada por nenhum editor a manipular ou omitir as informações que tinha em mãos a fim de não ir contra aos interesses políticos e econômicos daqueles que controlam a rádio. Afirma também que se um dia isso vier a acontecer, ela pedirá sua própria demissão. 
Como conselho àqueles que estão estudando para tornarem-se seus futuros colegas de profissão, a jornalista diz que a tendência é o mercado querer quem sabe trabalhar em mais de um tipo de mídia. Ou seja, os mais procurados serão aqueles capacitados para executar suas funções seja no rádio, na TV, no jornal ou na internet. Assim, ela incentiva os alunos a testarem sua multifuncionalidade e conta que ela mesma passou por isso nas duas últimas eleições presidenciais. Na época, além de realizar sua função original de cobrir o acontecimento para a rádio, ainda teve que participar da cobertura para um jornal.
Pé no chão, a jornalista diz que ama sua profissão e todos os inúmeros caminhos que esta lhe proporciona. Lembrando que, independentemente da área escolhida, o sucesso está sempre com aquele que gosta do que faz, acima de quaisquer empecilhos.

Todo assento é preferencial

Por Stephanie Hering

Quem nunca pegou um ônibus ou entrou no metrô e já se deparou com os dizeres: "Assento reservado para o uso de gestantes, mulheres portando bebês ou crianças de colo, idosos e deficientes físicos. Ausentes pessoas nessas condições, o uso é livre" ? Os chamados "assentos preferenciais" estão previstos em lei (10.012, 13/12/1985) em São Paulo e em inúmeras cidades do Brasil, entretanto, sabemos que nem todo mundo segue à risca essa lei e convivemos diariamente com situações de desrespeito.

O panfleto que tem circulado durante o mês de Abril de 2010 nos ônibus por São Paulo, certamente não é lido por algumas pessoas...

São apenas 7h15 numa manhã chuvosa na Av. Paulista e espero pelo ônibus para a faculdade. Embarco no  975A Brasilândia/Metrô Ana Rosa (por sinal, lotado como sempre) e me deparo com uma senhora de pé, enquanto os assentos reservados a ela estão ocupados por, entre outros, estudantes e pessoas jovens, que ouvem música alta com fone ouvido, dormem (ou fingem dormir, não se sabe ao certo) e olham para a janela como se o assunto em questão não lhes dissesse respeito. Nos assentos normais, certamente o pensamento de oferecer seu lugar para outro e ficar de pé num ônibus lotado está bem longe de cogitação.. Ao falar com o cobrador, Sr. Jorge José dos Santos, 58 anos, pergunto o que ele acha sobre a situação e ele responde: "Ah, fazer o que né, as pessoas não respeitam, a gente tem que pegar no pé pra dá lugar pra gente certa. Tem uns que reclamam, mas sabem que não tem moral nenhuma, tá na lei e tem mesmo que respeitar. A verdade é que ninguém pensa nos outros, só em si mesmo, até na hora de subir e não dar espaço pros outros entrarem."
Na volta para casa, a cena se repete, só que desta vez na linha verde do metrô, Vila Madalena/Sacomã. Ao parar em estações de integração como Paraíso ou Ana Rosa, o vagão tem seus lugares ocupados em poucos segundos, inclusive os de cor azul (ou cinza nos trens mais novos), por pessoas que não estão nas condições citadas na placa azul acima. Sentada em um dos lugares especiais, pergunto à uma jovem, Manoela Araújo, 19 anos, se ela sabe que está sentada em um assento preferencial e obtenho a seguinte resposta: "Sei sim. Mas não tem ninguém agora que precise sentar aqui, então não tem problema." Ela me conta que já passou por uma situação desagradável, na qual um idoso discutiu porque ela não se ofereceu para ele se sentar, sendo que estava no assento amarelo do ônibus. "Fiquei constrangida, não tinha mesmo visto ele. Se eu tivesse, claro que ia ter  saído pra ele sentar, mas estava distraída e não vi." 
É verdade que como na própria lei se diz, ausente nessas condições o uso é livre, contudo, o problema é ceder o lugar na hora que algum idoso, deficiente ou mulher com criança de colo entra no no trem. Preguiça, falta de respeito, distração... Existem diversas "desculpas" para isso, porém nenhuma justifica o ato. 

                                                                                                     Foto: Stephanie Hering

No último ônibus do dia, o 875C Lapa/Metrô Santa Cruz, mais uma situação de desrespeito: um senhor e uma senhora de pé, segurando nas barras de segurança, enquanto pessoas leêm livros, dormem e ignoram a visão ao seu redor. Decido entrevistar a senhora e pergunto se ela não se incomoda com a situação, e porque não pede para se sentar se possui direitos. Ikeda Nagawana, 63 anos, com um sorriso no rosto me diz então: "Ah bem, já tô acostumada. Eu sei que tenho o direito de sentar né, mas não gosto de ficar pedindo pra ninguém, ainda fico como a chata. Tem que partir da consciência de cada um..."
Pois a Sra. Ikeda estava certa... Deve partir da consciência de cada um, que antes de assentos amarelos, azuis ou cinzas, TODO assento é preferencial e um dia, também gostaremos de poder usufruir não de privilégios (como alguns pensam), mas de direitos básicos de quem também faz parte da sociedade, não importa idade, deficiência ou outros fatores.

                                                                         Foto: Stephanie Hering

Enquanto o senhor fica de pé no ônibus 875C...

                                                                                                     Foto: Stephanie Hering

...Pessoas usufruem do "descanso" nos assentos preferenciais ao lado do cobrador.