Reportagem especial: Mães contra a violência do Estado

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A Semana de Jornalismo realizada anualmente pela PUC-SP trata de um tema muito polêmico neste ano de 2010: os Direitos Humanos. Para participar do debate que aconteceu na terça-feira (25), algumas mães integrantes do movimento Mães de Maio foram convidadas e contaram aos alunos sobre os abusos que seus filhos sofreram antes de serem mortos pela polícia e a luta em busca de justiça que elas têm travado desde então.
O nome do movimento surgiu em alusão aos fatídicos episódios que aconteceram em maio de 2006, quando em represália aos ataques cometidos pelo PCC na mesma época, policiais e grupos de extermínio saíram pelas ruas matando todos aqueles que consideravam suspeitos.
Pelo que se tem notícia, foram assassinadas no mínimo 493 pessoas ao longo de uma única semana, das quais mais de 400 eram jovens negros, afro-índigenas e pobres. O número de mortes impressiona muito, pois nem durante o período da Ditadura Militar foram registrados tantos crimes cometidos pelo Estado.
Segundo Débora Maria da Silva, mãe de uma das vítimas da PM e ativista do movimento das Mães de Maio, um dia antes de seu filho ser morto, ela recebeu o telefonema de um integrante da polícia pedindo a ela que “avisasse às pessoas de bem para sair das ruas pois a polícia ia pra cima”. O mesmo homem disse ainda, que “os lixos” não deveriam ser avisados. “O que ele não sabia é que uma dessas pessoas que ele chamou de lixo era o meu filho, que era trabalhador e foi morto apenas porque era pobre, negro e estava na rua na hora errada”, desabafa Débora.
Uma das maiores lutas das mães que fazem parte do movimento é para que os negros e pobres, que normalmente habitam as periferias das cidades parem de ser discriminados e perseguidos. A maioria dos mortos atende tais características e na maior parte das vezes são executados apenas porque levantaram suspeitas na polícia, quando na verdade são trabalhadores que não representam nenhum perigo para a sociedade.
Além disso, Débora reclama que a grande mídia colaborou para que esses crimes cometidos durante a “onda de resposta” aos “ataques do PCC” fossem banalizados e que os grandes veículos de comunicação foram, durante muito tempo, a favor das mortes sem nunca ter nem procurado algum familiar das vítimas para ouvir o outro lado da história.
Ainda segundo ela, “até há pouco tempo a imprensa falava que todas as mortes eram devido à guerra do tráfico, mas a guerra não é do tráfico de drogas e sim da criminalização da pobreza”.
Outra mãe, Solange Prudes Moura, conta a história de seu filho Sidney que foi morto dentro da Febem (atual Fundação Casa) enquanto estava detido tentando se recuperar da dependência química e diz que foi testemunha de maus tratos a vários menores da mesma fundação.
Segundo Solange, o filho reclamava constantemente das agressões que recebia dos policiais até que um dia apareceu morto em sua cela. “A versão oficial passada pela Febem foi de ele tinha se matado mas os seus colegas de cela dizem que viram ele sendo espancado, dopado e após isso os policiais ainda atearam fogo no corpo dele”.
Na tentativa de fazer justiça à morte do filho e prender os culpados pelo crime, a mãe de Sidney passou a integrar o movimento das Mães de Maio, mesmo sem o crime ter ocorrido na mesma época. Ela conta que de 2003 a 2008, 35 adolescentes foram mortos na Febem e diz não entender como uma instituição que pretende reabilitar os jovens para viver em sociedade acaba fazendo-os sair pior do que entraram.
Ainda de acordo com as mães, o principal obstáculo que elas têm que ultrapassar para fazer justiça à morte dos filhos é o descaso das autoridades perante o caso. Elas dizem que as mortes não são investigadas com seriedade pois não há interesse de que o Estado seja julgado pelos crimes cometidos pelas suas próprias instituições.
Vale lembrar que a luta iniciada pelo movimento das Mães de Maio já dura mais de quatro anos e nenhum suspeito foi julgado até agora, pelo contrário, todos os processos foram arquivados. Contudo, essas mulheres juram que vão continuar lutando pela justiça já que a impunidade em casos como esse, só fez com que a violência policial se intensificasse.

Reportagem especial: participação da jornalista Cristina Coghi na aula de Tutoria na PUC


Do grupo   
         
Vestindo uma camisa branca, jeans e uma echarpe azul, Cristina Coghi inicia na PUC uma interessante palestra (e aula) sobre o jornalismo atual. Há 20 anos na CBN, a repórter fala sem titubear sobre sua carreira e sobre como é trabalhar em uma das maiores rádios do país que, além de tudo, carrega o título de ser a primeira no Brasil a transmitir apenas notícias. 
Além disso, a convidada nos conta também, que em sua época como universitária estudou jornalismo na Braz Cubas, em Mogi Mirim, uma universidade não muito conhecida, porém a única que suas condições financeiras lhe permitiram cursar. 
Antes de iniciar na emissora onde está até hoje, Coghi passou pelo jornal impresso trabalhando para os movimentos sindicais, pela TV Cultura e realizou “freelances”, até surgir a proposta de cobrir férias como redatora na própria CBN. Logo após o nascimento de seu filho, foi oficialmente contratada pela rádio. 
A jornalista descreve com detalhes a emoção e o sufoco pelos quais ela e seus colegas de profissão passam ao tentar realizar uma matéria, às vezes até mesmo sem se dar conta na hora dos perigos que estão correndo. Para exemplificar tal fato ela conta sobre um confronto que presenciou entre manifestantes do MST e a polícia, com direito a pedras, bombas de gás e cães da polícia.
Indagada sobre a recente determinação da Justiça Brasileira sobre a não obrigatoriedade do diploma na carreira jornalística, ela diz que não aprova tal medida, uma vez que há coisas que somente a formação acadêmica é capaz de ensinar. Contudo, acima disso deve haver categoria profissional e competência por parte dos jornalistas, independentemente da posse ou não de um certificado.
Cristina fala também de aspectos negativos da profissão, como por exemplo, as longas horas de trabalho e o expediente em boa parte dos feriados nacionais. Chega a dizer que “o mercado é uma máquina de fazer gente louca”.
Conta também que ao contrário do que a maioria pensa, ela nunca foi obrigada por nenhum editor a manipular ou omitir as informações que tinha em mãos a fim de não ir contra aos interesses políticos e econômicos daqueles que controlam a rádio. Afirma também que se um dia isso vier a acontecer, ela pedirá sua própria demissão. 
Como conselho àqueles que estão estudando para tornarem-se seus futuros colegas de profissão, a jornalista diz que a tendência é o mercado querer quem sabe trabalhar em mais de um tipo de mídia. Ou seja, os mais procurados serão aqueles capacitados para executar suas funções seja no rádio, na TV, no jornal ou na internet. Assim, ela incentiva os alunos a testarem sua multifuncionalidade e conta que ela mesma passou por isso nas duas últimas eleições presidenciais. Na época, além de realizar sua função original de cobrir o acontecimento para a rádio, ainda teve que participar da cobertura para um jornal.
Pé no chão, a jornalista diz que ama sua profissão e todos os inúmeros caminhos que esta lhe proporciona. Lembrando que, independentemente da área escolhida, o sucesso está sempre com aquele que gosta do que faz, acima de quaisquer empecilhos.